RIO DO ESQUECIMENTO - ISABEL RIO NOVO
Contemplo principalmente a escrita. A sua melodia.
Quase sem diálogos o texto é corrido e saltita entre gerações.
Atravessa o século dezanove e o século vinte e lidamos com várias personagens. Nem boas nem más. Apenas humanas.
Quase no fim, uma expressão interessantíssima.
"Mas convenhamos, a virtude é monótona. A arte quer-se em terrenos mais acidentados."
O perfil ambíguo de personagens como Miguel Augusto, Ema, Nicolau Sommersen, leva-nos a um emaranhado de sensações. Teresa Augusto não provoca mais do que pena ou apatia, Guilhermina quase insignificante.
Deixei para Maria Adelaide Clarange o sentimento completo. Aquela personagem que remata. Que muito tinha de estoico, benigno, sereno, amoroso, virtuoso.
Aquela cuja vida não foi desbaratada por nenhuma razão fútil e que se manteve livre até ao fim.
Confesso que fiquei surpreendida com o seu segredo, com a sua culpa. Tão humana e brutal.
Admito que sorri pelo canto dos lábios ante a perspetiva de tornar esta personagem ainda mais perfeita do que já era. Convenhamos a virtude é monótona. A ambiguidade do ser é o que o torna interessante, e nenhum de nós que pisamos a terra somos perfeitamente perfeitos. Um Miguel Augusto que se vinga, uma Ema profundamente gasta, um Nicolau Sommersen perdido na sua própria alma. Ali, não habita virtude porque essa camada é mais opaca.
Gostei muito da história e gostei muito da escrita.
Vale a pena seguir Isabel Rio Novo. E agora que já comecei, tenciono não ficar por aqui.
Romance finalista do Prémio Leya.
"O amor tem sempre o que quer que seja de crime; ou uma pessoa ama como quem perde, ou não sente realmente o amor."
"O verdadeiro, em romances, nem sempre é, pois, o belo, e raríssimas vezes é o bom."
Não conhecia o livro nem a autora. Obrigada.
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