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Ípsilon de sexta-feira, 18 de Setembro de 2020
Na revista da Ípsilon do jornal público do dia 18 de Setembro vem um trabalho, entrevista, sobre Bernardine Evaristo. Britânica, escritora e autora do livro Rapariga, Mulher, Outra, vencedor do Booker Prize de 2019. O texto é de Isabel Lucas e achei-o muito interessante.
Já tinha marcado o livro como uma possível leitura no futuro, por isso a capa da revista despertou-me a atenção, e decidi ler.
O texto fala do livro, mas chega-nos também com a voz da própria escritora, das suas vivências e realidades, e daquilo que é a sua consciência perante o mundo e as questões sociais e morais. Falo de racismo, machismo e classes sociais.
O livro é constituído por doze personagens, doze histórias, doze mulheres que tem em comum o facto de serem negras e viverem na Inglaterra.
A própria escritora define o romance da seguinte forma;
"É um romance interseccional. Antes de mais é sobre mulheres, mas olha também em direção a todo o tipo de coisas que tenham a ver com género, sexualidade, classe, raça, conflitos entre gerações: é também sobre ocupação, olha para a família, para a emigração, para a ambição. O racismo é parte disso, mas muitas outras coisas fazem o romance. Quis que fosse verdadeiro face à vida."
"Com este Rapariga, Mulher, Outra quis simplesmente expandir a representatividade das mulheres negras em Inglaterra."
"Comecei a pensar que iria escrever um livro e pôr nele o maior número de mulheres negras, e ver onde isso me iria levar. Elas são muito pouco visíveis na literatura britânica. Enquanto escrevia aquelas histórias tornou-se muito natural para mim, e sem que pensasse nisso inicialmente, integrar todas as coisas de que queria falar. Estão lá raça e género e decidi que iria escrever sobre diferentes sexualidades. Não queria que fosse um romance heterossexual, por isso não seria verdadeiro em relação à vida. A experiência de classe teria de ser um elemento tão decisivo quanto é no nossa sociedade, aqui. Quando se fala de ambição pessoal, a classe entra na conversa, imediatamente porque nesta sociedade, se se é ambicioso, isso significa deixar para trás uma classe e entrar noutra". " As gradações de classe na Grã-Bretanha são muito marcadas. A classe é de facto, um dos grandes problemas da nossa sociedade."
Bernardine Evaristo nasceu em Woolwich, sudoeste de Londres em 1959, filha de uma professora de Inglês e de um soldador nigeriano que emigrou para Inglaterra em 1949. As suas raízes são Inglesas, Irlandesas e Alemãs por parte da mãe, Nigerianas e Brasileiras por parte do pai.
Estudou teatro e chegou a ser atriz na adolescência, tem formação em escrita criativa, e neste momento é professora e critica literária para O Guardian e o Observer. Já escreveu oito romances e também escreve poesia.
Muitas vezes é apresentada como uma ativista pelo seu trabalho com o povo africano, principalmente em causas ligadas aos direitos das mulheres negras.
Voltando ao livro, são doze personagens que tem ligação entre si, numa espécie de relação mútua. Amma é mãe de Yazz e amiga de Dominique; Shirley é sua confidente, professora numa escola num bairro complicado onde vive Carole; ela é amiga de Latisha, uma nigeriana que emigrou que é ex-empregada de Penélope, professora reformada... há mais personagens, todas com algum elo de ligação. As doze personagens são artistas, banqueiras, professoras, empregadas de limpeza, donas de casa. Tem entre 19 e 93 anos e formam este romance premiado com o Booker Prize de 2019 e que o júri descreveu da seguinte forma;
" Um romance impressionante e feroz sobre a vida das famílias britânicas negras, as suas lutas, dores, risos, anseios e amores, considerando-o de leitura obrigatória sobre a Grã-Bretanha e a feminilidade."
No entanto o livro não ganhou o prémio sozinho e dividiu com o livro de Margaret Atwood, Os Testamentos. Foi considerado por algumas pessoas como uma injustiça, até pelo que é a primeira vez em 50 anos que o prémio é atribuído a uma escritora negra, mas não o foi na sua plenitude.
São estas subtilezas que trazem as questões do racismo, e até do machismo para o ordem do dia.
A escritora fala muitas vezes neste texto sobre questões racistas, aliás a sua vida é composta por lutas ideológicas. Tem como bem presente para além do racismo e machismo, também a chamada luta de classes, e aquele patamar que nem todos sequer nos poderemos atrever a chegar.
Como referi, é uma leitura que ainda não fiz, mas que quero muito fazer num futuro próximo.
Aliás, no decorrer da leitura encontrei outra leituras que quero fazer de opiniões dadas pela própria Bernardine Evaristo, como A Cor Púrpura de Alice Walker e alguma coisa de Ali Smith.
E alguém já leu este livro? E Alice Walker ou Ali Smith?
Gostaria da vossa opinião no Blogue... Seria um excelente principio de conversa, não acham? Quem quer começar?
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