25 de dezembro de 2020

Num meio dia de fim de Primavera (excerto) - Fernando Pessoa


Num meio dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à Terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.


Um dia que Deus estava a dormir
E o Espirito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o Sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas nas cabeças
E levanta-lhas as saias.

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.


 





Como digo no título do Post o que transcrevo aqui deste poema é apenas um excerto do mesmo.
Maria Bethânia, também declama apenas um excerto... 
Quando Jesus Cristo é uma criança. Quando a inocência se chama Jesus Cristo!
É uma crítica... a nós homens aqui da Terra, á Igreja Católica, à sociedade. É um hino, à Liberdade e à Inocência de uma criança que como todas as crianças tem o menino Jesus dentro delas.

Feliz Natal!

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