A Célula Adormecida - Nuno Nepomuceno
É o segundo livro que leio de Nuno Nepomuceno e estou a gostar bastante.
Demorei algum tempo a ganhar ritmo, a história tinha algum impasse inicial, mas sensivelmente a meio do livro é como se atravessássemos uma barreira intransponível e não conseguimos parar de ler.
Deixamos de ter sono e dizemos para os nossos botões "Bem, ainda dá para ler mais um bocadinho!". Levantamo-nos mais cedo, e dizemos "Vamos aproveitar mais umas páginas!"
Associo sempre um triller a um escritor estrangeiro.
Quando penso em triller´s lembro-me de Dan Brown, Hnorth & Rosenfeldt que descobri este ano, Gillian Flynn, entre muitos outros. Nos meus tempos de juventude preenchida por tardes na Biblioteca Municipal, Agatha Christie encheram dias e dias de leituras compulsivas.
Este ano li o primeiro triller de João Tordo, que me surpreendeu, e já tinha lido "A Morte do Papa" do Nuno e gostei imenso.
De repente descobri que um Português sabia escrever um Triller de forma magistral.
Quanto a esta "A Célula Adormecida" é um trabalho notável. Para além de todas as componentes e condimentos de um verdadeiro romance policial que nos prende de forma frenética até à última página, é um trabalho exemplar de pesquisa sobre outras culturas e sobre uma realidade bem real e atual, que é o conflito Sírio, o Daesh e a tragédia humanitária dos refugiados que fogem para a Europa.
É nos chapado na cara, quão pouco vale a vida humana, para aqueles que mantém o poder.
Qual a nossa capacidade em confiarmos nos outros? Mesmo quando a cor da pele, ou a língua que falam é tão dispare da nossa?
Quantas injustiças vemos diariamente mesmo neste cantinho à beira mar, sossegado e sem conflitos e nos calamos, e baixamos os olhos, porque são os outros e não nós que passamos por isso.
Quantas vidas e sonhos são destruídos, pela mera pretensão do ser humano de que é melhor do que o outro ou tem mais direito à dignidade do que o outro.
O livro não é nenhum recreio encantado de uma escola que se julga inclusiva perante a sociedade e a morte paira em cada página, pela fatalidade e pela maldade humana.
" Porque é que as pessoas não compreendem que o mais importante é acreditarem, seguirem uma vida honrada e justa, independentemente do credo? Deus é só um e Ele é igual para todos nós."
Nuno Nepomuceno criou aqui uma personagem, Afonso Catalão, que está bom para as curvas, e o aproveitamento que pode fazer desta personagem para outras histórias tornou-se ilimitado, e aprova disso é que nesta série Afonso Catalão, já foram editados, para além desta " A Célula Adormecida", "Pecados Santos", "A última Ceia" e "A Morte do Papa", e saí no inicio do ano de 2021 "O Cardeal"
Uma formula tão boa como qualquer outra, que nos traz um verdadeiro contado de histórias.
"Em nome de Deus, O Clemente, O Misericordioso.
"[...] Para cada um de vós, traçamos uma lei e um caminho. E, se Deus assim o quisesse, haveria feito de vós uma única comunidade.
Mas não o fez, para pôr-vos à prova com o que vos concedeu. Então, competi entre vós pelo bem: todos vós ireis regressar a Deus. E Ele esclarecer-vos-á acerca daquilo em que diferíveis."
Alcorão
Sura 5 - O Festim
(revelada ao Profeta Maomé em Medina)
Excerto do ayat 48
Um livro muito bem construído e conseguido. Dentro deste genero, é sem dúvida dos melhores que já li. Está muito bem escrito e nota-se uma pesquisa enorme da parte do autor, que está sem duvida de parabéns por cada obra lançada!!
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